Há um livro em inglês chamado: Jornada sombria, graça profunda. A história de fé de Jeffrey Dahmer.
Nesse livro o pastor Roy Ratcliff conta a história de Jeffrey Dahmer, um homem condenado por crimes hediondos: ele cometeu assassinato, desmembramento e canibalismo. Um assassino em série. O pastor Roy não queria ir vê-lo a princípio. Recebeu um telefonema da prisão dizendo que ele queria conversar com um pastor. Ele relutou. Mas começou a visita-lo. E esse homem foi alcançado pela graça, convertido e escreve sobre essa graça que salva até um homem como esse.
Um dos membros da igreja de Roy diz para ele: “Se Jeffrey Dahmer foi para o céu, eu não quero estar lá”. Ao que o pastor responde: “Como pode um cristão pensar dessa forma? Acaso o perdão é limitado a quem não é tão ruim assim? Não há alegria em saber que um pecador se voltou para Deus?”.
Quem é digno? Quem é indigno? Muitas vezes pensamos assim com relação a traficantes, assassinos, adúlteros, corruptos.
Davi pecou gravemente. Não é que ele pecou antes de ser regenerado, foi depois.
A importância do arrependimento. Nos humilha. Nos tira do centro. Não depende do nosso legalismo .
Contexto:
O Salmo 51, um dos sete salmos penitenciais (6, 32, 38, 51, 102, 130, 143) – provavelmente o mais famoso deles –, é um exemplo ideal do que significa “mudança de atitude”. O Salmo 51 era um dos favoritos de John Bunyan.
“- Quando o Dr. Carey estava sofrendo de uma doença perigosa, a pergunta foi feita:” Se esta doença se provar fatal, que passagem você escolheria como texto para seu sermão fúnebre? ”Ele respondeu:“ Oh, eu sinto que uma pobre criatura pecadora não é digna de ser falada sobre ela; mas se um sermão fúnebre deve ser pregado, que seja das palavras: ‘Tem misericórdia de mim, ó Deus, de acordo com a tua benignidade; de acordo com a multidão de tuas ternas misericórdias, apaga minhas transgressões. ‘”Com o mesmo espírito de humildade ele ordenou em seu testamento que a seguinte inscrição e nada mais fossem gravadas em sua lápide: –
WILLIAM CAREY, NASCIDO EM 17 DE AGOSTO DE 1761: MORREU –
“Um verme miserável, pobre e indefeso. Em Teus braços bondosos eu caio. “
Seu escritor, o rei Davi, sofre uma grande transformação que merece ser observada com atenção. A mudança pode ser percebida não apenas no corpo do texto, mas no contexto indicado pelo título do salmo: “Ao dirigente: Cântico de Davi, em vindo a ele Natã, o profeta, depois de ter [Davi] se deitado com Bate-Seba”. Essa introdução nos remete a 2Samuel 11 e 12, onde são narradas as atitudes de Davi como pecados singulares em sua vida. Esses capítulos mostram uma sequência drástica de pecados cada vez piores que começam com a cobiça da mulher de um amigo, seguido pelo adultério ao tomá-la em seu leito.
O que já era trágico, piora com a notícia de que a mulher, Bate-Seba, ficou grávida. Davi, então, chama Urias, o marido, do campo de batalha e tenta fazê-lo ir para sua casa a fim de parecer que era dele o filho que a mulher esperava. Urias não atendeu à sugestão do rei que, em uma nova tentativa, o embriagou a fim de convencê-lo. A falta de sucesso fez Davi lançar mão de uma opção extrema, pela qual, deliberadamente, causou a morte do marido traído. Com sua morte, Davi desposou a mulher gestante e acreditou que tudo permaneceria em segredo. A farsa só teve fim quando o profeta Natã, usando de um estratagema, fez o rei pronunciar uma condenação sobre si mesmo e o repreendeu duramente pelo pecado.
Em outras ocasiões narradas nas Escrituras, como em 1Samuel 15.10-31, repreender um pecado do rei promoveu reações raivosas do monarca. Mas, com Davi, o resultado foi bem diferente. Houve “mudança de atitude” por parte do rei pecador. Isso torna o episódio – e esse salmo – um material importante a fim de aprendermos sobre o arrependimento e o perdão de pecados. O Salmo 51, nesse sentido, nos mostra quatro implicações do pecado na vida do homem que quebranta seu coração diante de Deus.
- O Reconhecimento do Pecado e da Necessidade do perdão (vs. 1-2)
A necessidade do perdão e da restauração. Vendo sua condição pecaminosa, o homem olha para seus atos de pecados e não os acha naturais, mas transgressões que ofendem o santo Deus. Por isso, busca o perdão divino e uma mudança que o faça, novamente, ter comunhão plena com o Senhor. A exemplo de Davi, ele roga (vv.1,2): “Apaga as minhas culpas, lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado” (meheh pesha‘ay harbeh kabbesenî me‘aônî ûmehatta’tî taharenî).
Davi tem seus olhos abertos. Não veio dele. Deus abriu seus olhos. Ele se reconhece pecador.
A Malignidade do nosso pecado:
Ele utiliza três palavras para destacar a nossa malignidade nos versículos 1 e 2: transgressão (pesha), pecado (chata’ah) e iniquidade ou culpa (avon).
As três palavras hebraicas denotam o quão pecadores somos diante de um Deus santo. Todos nós, por causa das nossas transgressões, pecados e iniquidades somos culpados diante de Deus. Feitos malditos por causa dos nossos pecados.
Nenhum pecado fica sozinho: cada transgressão é a mãe de muitas transgressões: cada uma é uma raiz de amargura de onde brotam muitos ramos amargos, de modo que não podemos um pecado sem confessar muitos.
São transgressões, pesha, rebelião.
É iniquidade, avon, trato corrupto.
É pecado, conversação, erro e errância
A graça de Deus:
Benignidade: HESED – a graça de Deus. Por causa das misericórdias do SENHOR é que não somos consumidos. Seu amor leal.
Hesed se refere principalmente aos direitos e obrigações mútuos e recíprocos entre as partes de um relacionamento (especialmente Jeová e Israel). Mas hesed não é apenas uma questão de obrigação, mas também de generosidade. Não é apenas uma questão de lealdade, mas também de misericórdia. Hesed implica envolvimento pessoal e compromisso em um relacionamento além do Estado de Direito.
Misericódia (racham): ventre – profunda compaixão. Amor com profunda compaixão. Deus olha para nós com graça.
Compaixão (07356) (racham ou plural rachamim) (Septuaginta = oiktirmos – estudo de palavras) é um substantivo feminino que significa útero (forma singular em hebraico sempre = “útero”) que significa amar profundamente (geralmente de superior para inferior) e enraizado em algum vínculo “natural”. Por exemplo, racham retrata o profundo anseio de José por seu irmão mais novo, Benjamin (Gên 43:30). A maioria dos usos de racham referem-se à terna misericórdia de Deus que está enraizada em Seu amor livre e graça surpreendente. Compaixão é Deus tendo um sentimento profundo (“visceral”) por nossas enfermidades.
Você experimentou Seu precioso racham durante um período de profunda aflição, adversidade, quebrantamento ou contrição? Seu racham está sempre à disposição do coração quebrantado e contrito!
Confissão de pecado.
A confissão é auto-acusadora. “Eu pequei” (Sl 51.4)… E a verdade é que por meio desta auto-acusação impedimos Satanás de acusar-nos. Em nossas confissões, nos identificamos com orgulho, infidelidade e paixão.
Charles Colson disse uma vez que “Se há algo pior do que nossos pecados, é nossa capacidade infinita de racionalizá-lo”, mas esse não era o problema de Davi. Ele reconheceu que o mal do pecado entra como uma agulha, mas espalha suas raízes tóxicas na alma como um carvalho!
Assim, quando Satanás, chamado de acusador dos irmãos, lançar essas coisas contra nós, Deus lhe replicará: “Eles já acusaram a si mesmos. Então, Satanás, você está destituído de motivos legítimos; suas acusações surgiram muito tarde…” Agora, ouça o que diz o apóstolo Paulo: “Se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados” (1 Co 11.31).
Entretanto, homens ímpios, como Judas e Saul, não confessaram seus pecados? Sim, mas as suas confissões não eram verdadeiras. Para que a confissão de pecado seja correta e genuína, estas… qualificações precisam estar presentes:
1. A confissão tem de ser espontânea. Tem de surgir como a água que brota do manancial, livremente. A confissão do ímpios é obtida à força, como a confissão de um homem sob tortura. Quando uma faísca da ira de Deus atinge a consciência dos ímpios ou estão sob o temor da morte, eles se prostrarão em confissão… Mas a verdadeira confissão flui dos lábios tal como a mirra jorra da árvore ou o mel da colméia, espontaneamente…
2. A confissão tem ocorrer com contrição. O coração precisa ressentir profundamente o pecado. As confissões de um homem natural procede de seu íntimo assim como uma água que passa por um cano. Elas não o afetam de maneira alguma. Mas a confissão verdadeira deixa impressões que pungem o coração. Ao confessar seus pecados, a alma de Davi sentiu-se sobrecarregada: “Já se elevam acima de minha cabeça as minhas iniqüidades; como fardos pesados, excedem as minhas forças” (Sl 38.4). Uma coisa é confessar o pecado, outra coisa é sentir o pecado.
3. A confissão tem de ser sincera. Nosso coração precisa estar em harmonia com a confissão. O hipócrita confessa o pecado, mas o ama, assim como um ladrão que confessa os bens roubados e continua a amar o roubo. Quantos confessam o orgulho e a cobiça, com seus lábios, mas se deleitam neles ocultamente… Um verdadeiro cristão é mais honesto. Seu coração anda em harmonia com usa língua. Ele é convencido dos pecados que confessa e detesta os pecados dos quais é convencido.
4. Na confissão verdadeira, o crente especifica o pecado. O ímpio reconhece que é um pecador como todos os outros. Ele confessa o pecado de maneira geral… Um verdadeiro convertido reconhece seus pecados específicos. Ele se comporta à semelhança de uma pessoa enferma que vai ao médico e lhe mostra as feridas, dizendo: “Levei um corte na cabeça, recebi um tiro no braço”. O pecador entristecido confessa as diversas imperfeições de sua alma… Por meio de uma inspeção diligente de nosso coração, podemos achar alguns pecados específicos que tratamos com indulgência. Confessemos com lágrimas esses pecados, indicando-os pelo nome.
5. Um pessoa verdadeiramente arrependida confessa o pecado em sua fonte. Ela reconhece a contaminação de sua natureza. O pecado de nossa natureza não é somente uma falta do bem, mas também uma infusão do mal… Nossa natureza é um abismo e uma fonte de todo mal, dos quais procedem os escândalos que infestam o mundo. É essa depravação de natureza que envenena nossas coisas santas. Isso traz os juízos de Deus e paralisa em sua origem as nossas misericórdias. Oh! Confesse o pecado em sua fonte!…
- A tristeza por causa do pecado (vs. 7-8)
O sofrimento como consequência do pecado. Para o servo de Deus o pecado é fonte de dor por dois motivos.
O primeiro é porque ele causa consequências que fazem sofrer (Tg 1.15). O segundo, porque o pecador perde seu contato próximo com o Senhor, o qual não suporta o pecado e não fica alheio a ele (Is 59.1,2).
No caso de Davi, por ocasião do pecado com Bate-Seba e a triste sequência de pecados que resultou na morte de Urias, o sofrimento não foi diferente, mesmo antes de ser Davi repreendido pelo profeta Natã.
Podemos notar essa realidade pelo modo como Davi diz se sentir antes de confessar sua maldade (v.8): “Faze-me ouvir regozijo e alegria e, assim, se alegrarão os ossos que tu trituraste”.
Davi não teve fraturas múltiplas. Ao dizer que teve seus ossos triturados ou moídos, ele se refere ao sofrimento que sentia por ter pecado. A tristeza pelo pecado era tanta que lhe parecia que seus ossos estavam esmigalhados. Por isso o pedido pela restauração da alegria. O fato é que o pecado causa sofrimento a quem quer seguir a Deus.
“Suporto tristeza por causa do meu pecado” (Sl 38.18).
Ambrósio chamava essa tristeza de amargura da alma. Isso precisa estar presente no verdadeiro arrependimento. “Olharão para aquele a quem traspassaram… e chorarão” (Zc 12.10), como se sentissem os cravos da cruz penetrando o seu lado. Uma mulher pode esperar ter um filho sem dores, assim como alguém pode esperar arrepender-se sem tristeza. Aquele que crê sem duvidar, põe sob suspeita a sua fé; aquele que se arrepende sem entristecer-se nos deixa incertos de seu arrependimento…
Esta tristeza pelo pecado não é superficial; é uma agonia santa. Nas Escrituras, ela é chamada de quebrantamento de coração: “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Sl 51.17); um rasgamento do coração: “Rasgai o vosso coração” (Jl 2.13). As expressões bater no peito (Jr 31.19; Lc 18.13), cingir o cilício (Is 22.12), arrancar os cabelos (Ed 9.3) — todas essas expressões são apenas sinais exteriores de tristeza.
Essa tristeza implica (1) tornar a Cristo precioso. Oh! quão precioso é o Salvador para uma alma atribulada! Agora, Cristo é, de fato, Cristo; e a misericórdia é realmente misericórdia. Enquanto o coração não estiver repleto de compunção, ele não estará pronto para o arrependimento. Quão bem-vindo é um cirurgião para um homem que sangra por suas feridas!
(2) Implica repelir o pecado. O pecado gera tristeza, e a tristeza mata o pecado… A água salgada das lágrimas mata o verme da consciência.
(3) Implica preparar-se para receber firme consolo. “Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão” (Sl 126.5). O penitente tem uma semeadura de lágrimas, mas uma colheita deliciosa. O arrependimento rompe os abscessos do pecado, e, em seguida, a alma fica tranqüila… O ato de Deus em afligir a alma por causa do pecado é como o agitar da água que trazia cura, no tanque (Jo 5.4)
Contudo, nem toda tristeza evidencia o verdadeiro arrependimento… o que é esse entristecer piedoso? Há seis descrições:
1. A verdadeira tristeza espiritual é interior. É uma tristeza de coração. A tristeza dos hipócritas evidencia-se somente em sua face. “Desfiguram o rosto” (Mt 6.16). Mostram um rosto melancólico, mas a tristeza deles não vai além disso, como o orvalho que umedece a folha, mas não penetra a raiz.
O arrependimento de Acabe foi uma exibição exterior. Seus vestidos foram rasgados, mas não o seu espírito (1 Rs 21.27). A tristeza segundo Deus avança mais além; é como uma veia que sangra internamente. O coração sangra por causa do pecado — “Compungiu-se-lhes o coração” (At 2.37). Assim como o coração tem a parte principal no ato de pecar, o mesmo deve acontecer no caso do entristecer-se. Paulo lamentava por causa da lei em seus membros (Rm 7.23). Aquele que lamenta verdadeiramente o pecado se entristece por conta das incitações do orgulho e da concupiscência. Ele se entristece por causa da “raiz de amargura”, embora ela nunca prospere até ao ponto de levá-lo a agir. Um homem ímpio pode sentir-se atribulado por pecados escandalosos; um verdadeiro convertido lamenta os pecados do coração.
2. A tristeza espiritual é sincera. É a tristeza pela ofensa, e não pela punição. A lei de Deus foi infringida, e seu amor, abusado. Isso leva a alma às lágrimas. Uma pessoa pode ficar triste e não se arrepender. Um ladrão fica triste quando é apanhado, mas não por causa do roubo, e sim porque tem de sofrer a pena… A tristeza piedosa se expressa principalmente por causa da transgressão contra Deus. Portanto, se não houvesse uma consciência a ferir, uma diabo a acusar, um inferno para servir de castigo, a alma ainda se sentiria triste por causa da ofensa praticada contra Deus… Oh! que eu não ofenda o meu bom Deus, nem entristeça o meu Consolador! Isso parte o meu coração!…
3. A tristeza espiritual Deus é repleta de confiança. É mesclada com fé… A tristeza bíblica afundará o coração, se a roldana da fé não o erguer. Assim como o nosso pecado está sempre diante de Deus, assim também a promessa de Deus tem de estar sempre diante de nós…
4. A tristeza espiritual é uma grande tristeza. “Naquele dia, será grande o pranto em Jerusalém, como o pranto de Hadade-Rimom” (Zc 12.11). Dois sóis se puserem no dia em que Josias morreu, e houve um enorme lamento fúnebre. A tristeza pelo pecado deve chegar a esse nível.
5. A tristeza espiritual é, em alguns casos, acompanhada de restituição. Aquele que, por injustiça, errou contra outrem, em seus bens, lidando com fraude, deve em sã consciência realizar a compensação. Há um mandamento claro quanto a isso: “Confessará o pecado que cometer; e, pela culpa, fará plena restituição, e lhe acrescentará a sua quinta parte, e dará tudo àquele contra quem se fez culpado” (Nm 5.7). Por isso, Zaqueu fez restituição: “Se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais” (Lc 19.8).
6. A tristeza espiritual é permanente. Não são algumas lágrimas derramadas ocasionalmente que servirão. Alguns derramarão lágrimas ao ouvirem um sermão, mas isso é como uma chuva de abril — logo acaba — ou como uma veia aberta e fechada novamente. A verdadeira tristeza tem de ser habitual. Ó cristão, a doença de sua alma é crônica, e a recaída, freqüente. Portanto, você tem de tratar-se com remédio continuamente, por meio do arrependimento. Essa é a tristeza “segundo Deus”.
- A vergonha e ódio pelo pecado (vs. 9, 11, 14)
Vergonha pelo pecado. O quarto componente no arrependimento é a vergonha. “Para que… se envergonhe das suas iniqüidades” (Ez 43.10).
O filho pródigo, arrependido, ficou tão envergonhado de seus excessos que se julgava indigno de ser, outra vez, chamado filho (Lc 15.21). O arrependimento causa um acanhamento santo. Se Cristo não estivesse no coração do pecador, não haveria tanta vergonha se expressando no rosto.
“Eu conheço as minhas transgressões e meu pecado está sempre diante de mim”. Sl 51.3
Martinho Lutero fez um comentário incisivo sobre esta passagem escrevendo que …
A diferença entre os verdadeiros santos e os falsos santos é esta: os primeiros vêem suas transgressões e percebem que não são o que deveriam ser e gostariam de ser. Portanto, eles se julgam e não se preocupam com os outros. Os outros, entretanto, não percebem sua própria maldade; eles imaginam que são como deveriam ser. Eles sempre se esquecem de si mesmos e julgam a maldade dos outros. Eles pervertem este salmo e dizem: “Eu vejo os pecados dos outros, e os pecados dos outros estão sempre diante de mim.” Isso ocorre porque eles têm seus próprios pecados em suas costas e uma lenha em seus olhos (Mt 7: 3, 4, 5). (Obras de Lutero, vol. 14: Salmos selecionados III)
“Fiz o que é mau perante os teus olhos” Sl 51.4
“Esconde o rosto dos meus pecados” Sl 51.9
“Não me repulses da tua presença” Sl 51.11
Há algumas considerações sobre o pecado que nos causa vergonha:
1. Todo pecado nos torna culpados, e a culpa nos deixa envergonhados.
2. Em todo pecado, há muita ingratidão. E essa é a razão da vergonha. Abusar da bondade de Deus, como isso nos envergonha!… Ingratidão é um pecado tão grave, que Deus mesmo se admira dele (Is 1.2).
3. O pecado mostra o que somos, e isso nos causa vergonha. O pecado nos rouba as vestes de santidade. E nos deixa destituídos de pureza, deformados aos olhos de Deus; e isso nos envergonha…
4. Nossos pecados expuseram Cristo à vergonha. E não nos envergonharemos deles? Vestimos a púrpura; não vestiremos o carmesim?
5. Aquilo que nos deixa envergonhados é o fato de que os pecados que cometemos são piores do que os pecados dos incrédulos. Agimos contra a luz que possuímos.
6. Nossos pecados são piores do que os pecados dos demônios. Os anjos caídos nunca pecaram contra o sangue de Cristo. Cristo não morreu por eles… Com certeza, se sobrepujamos o pecado dos demônios, isso deve nos causar muita vergonha.
Componente 5: Ódio pelo pecado. O quinto componente do arrependimento é o ódio pelo pecado. Os eruditos distinguem dois tipos de ódio: o ódio das iniqüidades e o ódio da inimizade.
Primeiramente, há um ódio ou abominação das iniqüidades. “Tereis nojo de vós mesmos por causa das vossas iniqüidades e das vossas abominações” (Ez 36.31). Um cristão verdadeiramente arrependido é alguém que detesta o pecado. Se uma pessoa detesta aquilo que faz seu estômago adoecer, ela deve, com muito mais intensidade, detestar aquilo que deixa enferma a sua consciência. É mais fácil abominar o pecado do que deixá-lo… Não amamos a Cristo enquanto não odiamos o pecado. Nuca anelamos o céu enquanto não detestamos o pecado.
Em segundo, há um ódio da inimizade. Não há melhor maneira de descobrir vida do que por meio do movimento. Os olhos se movem, o pulso bate. Portanto, para constatar o arrependimento, não há sinal melhor do que uma antipatia santa para com o pecado… O arrependimento correto começa no amor a Deus e termina no ódio ao pecado.
Como podemos discernir o verdadeiro ódio para com o pecado?
1. Quando a pessoa se mantém resoluta contra o pecado. A língua lamenta amargamente o pecado, e o coração o odeia, de modo que, embora o pecado se apresente de forma atraente, nós o achamos detestável e o abominados com ódio mortal, sem levarmos em conta a sua aparência agradável… O diabo pode vestir e disfarçar o pecado com prazer e proveito, mas um verdadeiro penitente, que tem ódio secreto pelo pecado, sente repulsa e não se envolverá nele.
2. O verdadeiro ódio pelo pecado é abrangente. Isso se aplica a dois aspectos: no que diz respeito às faculdades e ao objeto. (a) O ódio pelo pecado é abrangente no que concerne às faculdades da alma, ou seja, há um desgosto para com o pecado não somente no juízo, mas também na vontade e nas afeições. Há alguns que são convencidos de que o pecado é maligno e, em seu juízo, têm uma aversão para com ele. Mas acham-no agradável e têm satisfação íntima nele. Nesse caso, há um desprazer do pecado no juízo e um aceitação dele nas afeições. No verdadeiro arrependimento, o ódio pelo pecado está presente em todas as faculdades da alma; não somente no intelecto, mas, principalmente, na vontade. “Não faço o que prefiro, e sim o que detesto” (Rm 7.15). Paulo não era livre do pecado, mas a sua vontade se posicionava contra o pecado. (b) O ódio pelo pecado é abrangente no que concerne ao objeto. Aquele que odeia um pecado odeia todos… Os hipócritas odeiam alguns pecados que mancham sua reputação, mas o verdadeiro convertido odeia todos os pecados: os pecados que produzem vantagem, os pecados resultantes de nossas inclinações naturais, as próprias instigações da corrupção. Paulo odiava as obras do pecado (Rm 7.23).
3. O verdadeiro ódio pelo pecado se manifesta contra o pecado em todas as suas formas. Um coração santo detesta o pecado por causa de sua contaminação natural. O pecado deixa uma mancha na alma. Uma pessoa regenerada aborrece o pecado não somente por causa da maldição, mas também por causa do contágio. Ele odeia essa serpente não somente por causa de sua picada, mas também por causa de seu veneno. Abomina o pecado não somente por causa do inferno, mas como o próprio inferno.
4. O verdadeiro ódio pelo pecado é implacável. O cristão genuíno nunca mais se conciliará com o pecado. A ira pode experimentar conciliação, porém o ódio não pode experimentá-la…
5. Onde há verdadeiro ódio pelo pecado, nos opomos ao pecado em nós mesmos e nos outros. A igreja de Éfeso não podia suportar aqueles que eram maus (Ap 2.2). Paulo repreendeu arduamente Pedro por causa de sua dissimulação, embora este fosse um apóstolo. Com insatisfação santa, Cristo expulsou os cambistas do templo (Jo 2.15). Ele não tolerou que o templo sofresse uma mudança. Neemias repreendeu os nobres por sua usura (Ne 5.7) e pela profanação do sábado (Ne 13.17). Aquele que odeia o pecado não suportará a iniqüidade em sua família — “Não há de ficar em minha casa o que usa de fraude” (Sl 101.7). Que vergonha se manifesta quando os magistrados mostram força de espírito em suas paixões e nenhum heroísmo em suprimir o erro! Aqueles que não tem qualquer antipatia para com o pecado não conhecem o arrependimento. O pecado está neles como o veneno está em uma serpente e, por ser natural, lhe proporciona deleite.
Quão distantes estão do arrependimento aqueles que, ao invés de odiarem o pecado, amam-no! Amar o pecado é pior do que praticá-lo. Um homem bom pode precipitar-se cair em uma atitude pecaminosa, mas amar o pecado é desesperador. O que faz um porco amar o revolver-se na lama? O que faz um demônio amar aquilo que se opõe a Deus? Amar o pecado mostra que a vontade está no pecado; e, quanto mais a vontade estiver no pecado, tanto maior ele será. A obstinação faz com que não haja mais purificação para o pecado (Hb 10.26). Oh! quantos existem que amam o fruto proibido! Amam as imprecações e os adultérios. Amam o pecado e odeiam a repreensão… Portanto, quando os homens amam o pecado, apegam-se àquilo que será a sua morte e brincam com a condenação, isso indica que “o coração dos homens está cheio de maldade” (Ec 9.3). Isso nos persuade a mostrar nosso arrependimento por meio de um ódio amargo para com o pecado…
- A certeza da restauração (vs. 10, 12)
A certeza de restauração para quem se arrepende. Apesar de conhecer seu pecado (v.3), Davi sabia que, com o coração contrito, podia recorrer a Deus a fim de ser perdoado e restaurado. Ele conhecia o caráter transformador do Deus a quem servia. Assim, demonstra confiança em sua oração quando pede que Deus lhe execute uma mudança profunda (vv.10,12): “Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova no meu íntimo um espírito estável… Recobra em mim a alegria da tua salvação e mantém em mim um espírito enobrecido”. Com os benefícios das respostas da oração que dirige a Deus, o salmista não apenas é perdoado, mas volta à ativa como um servo útil na obra de Deus.
Consequência do perdão:
Pecados apagados (vs. 1) – livres da culpa
Conhecer a sabedoria (vs. 6) – uma mente cristã
Júbilo e alegria (vs. 8) – alegria como fruto do Espírito
Coração puro (vs. 10)
Alegria da salvação (vs. 12)
Ensinarei aos transgressores (vs. 13) – a graça transborda para outros
O fato de sermos perdoados deve ser motivo tanto de louvor a Deus como de testemunho público do amor do Senhor pelos que lhe pertencem.
É por isso que Davi, mesmo sabendo do seu pecado e da necessidade que tinha de perdão e restauração que só podiam vir de Deus, se antecipa e anuncia o que fará (v.13): “Eu ensinarei aos rebeldes os teus caminhos e os pecadores se voltarão para ti”. O efeito de tal anúncio parece encontrar seu par na vida dos israelitas de aí por diante (vv.18,19).
CONCLUSÃO:
Em Isaías 53 essas três palavras se repetem: pecado (chata’ah) – Salmo 51.2 e Isaías 53.12; transgressão (pesha) – Salmo 51.1 e Isaías 53.5, 8; e iniquidade (avon) – Salmo 51.2 e Isaías 53.5, 6, 11. O Justo, aquele que não cometeu nenhum pecado tomou sobre si as nossas enfermidades (Is 53.4). Ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados (Is 53.5). O Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos (Is 53.6). Como cordeiro foi levado ao matadouro em nosso lugar (Is 53.7). Ele deu a sua alma como oferta pelo pecado (Is 53.10) e levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu (Is 53.12).
Podemos ser perdoados, ter o nosso pecado coberto e não ter culpa atribuída a nós porque ele foi castigado em nosso lugar. Porque ele é quem é a nossa propiciação, ele é quem nos cobre diante de Deus e desvia para si a ira, bebendo o cálice da ira de Deus em nosso lugar. Ele é quem cumpriu a justiça de Deus em nosso lugar “posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca” (Is 53.9) e por isso “justificará a muitos” (Is 53.11) e assim somos declarados justos diante de Deus e ele não atribui a nós culpa nem iniquidade. Jesus Cristo é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, que transforma a maldição em bênção.
Por isso ele não nos repulsa da sua presença, porque ele fez isso com o seu filho em nosso lugar!!!
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