Neemias 13
Introdução
Como Começam os Costumes: Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancadas. Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas. Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais subia a escada. Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato. Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o fato. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído. Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas. Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: – “Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui…”
O novo nascimento necessariamente nos levará a novos hábitos e a uma vigilância constante.
Se considerássemos uma novela, terminar em Ne 13.3 seria o ideal, pois aí terminaríamos o livro tranquilamente como alguém que resolveu todos os conflitos e venceu, mas o livro nos mostra uma realidade diferente. Temos uma conclusão que nos ensina Thomas Jefferson que “o preço da liberdade é a eterna vigilância”.
Pano de Fundo
Durante os restantes onze anos e meio da administração de Neemias tudo correu sem maiores problemas. O partido da oposição em Jerusalém pouco pôde fazer para opor-se a um administrador tão capaz.
Mas depois de mais de uma década como governador, Neemias volta à corte de Artaxerxes. Permanece na Babilônia por doze anos. Durante sua ausência, o partido de oposição – composto do sumo sacerdote e sua família, mais os cidadãos influentes da cidade – desprezam a política separatista de Neemias em favor de menos restrições, diálogo aberto com os samaritanos e a remoção de influências inibidoras.
Em mais ou menos 420 a.C. Neemias é mais uma vez designado governador da Judeia. O fato de ele haver pedido permissão para voltar a Jerusalém pode indicar que teve algum conhecimento das condições em Judá.
Quando chega, Neemias percebe que o templo e seu culto foram negligenciados (Neemias 13.11, compare 10.39). Ele procura a causa e descobre que está na tolerância do mal.
Durante seu governo anterior Eliasibe se conteve. Mas quando Neemias foi para a Babilônia, o sumo sacerdote tomou ares de diplomata. Um dos seus primeiros passos foi fazer que um membro de sua família se casasse com alguém da família de Tobias. Então, como símbolo de boa vontade, ele tomou certas salas de depósito do templo – câmaras sob sua supervisão direta – e as transformou em apartamento para Tobias. E Tobias é amonita (Ne 2.19, Dt 23.3,: Nenhum amonita ou moabita entrará na assembleia do SENHOR, nem ainda a sua décima geração entrará na assembleia do SENHOR, eternamente).
Podemos estar certos de que esse passo não agradou ao povo comum. Este tinha ainda lealdade para com a Palavra do Senhor. Mas eles não tinham força para opor-se a Eliasibe. A “nova” administração de Jerusalém queria ser conciliadora.
Eliasibe não levou em conta o Profeta Malaquias que profetizou contra isso (Malaquias 2.1-9). Suas palavras foram dirigidas especialmente ao povo e desprezadas pelos sacerdotes.
O que começou como tolerância à presença de Tobias na área do templo teve efeitos de longo alcance sobre o povo. Visto que as câmaras tinham sido transformadas sem aposentos para Tobias, o povo já não mais contribuía para o templo.
Os levitas, para manter sua família, tiveram de voltar às suas fazendas. Com a falta de ensino espiritual o povo ficou relaxado quanto à justiça prática. Os empreendimentos comerciais começaram a surgir no Dia do Senhor, e o resultado inevitável foi o declínio moral.
REFORMA OUSADA
Quando Neemias voltou a Jerusalém, analisou o problema e deu passos decisivos para corrigi-lo. Entrou no templo e jogou fora os móveis de Tobias. Deu instruções para que as salas fossem limpas e devolvidas a seu proposito original.
Tudo isso demanda coragem – a coragem de um homem cujas convicções estão firmemente estabelecidas sobre a rocha das Escrituras. Significativamente, Eliasibe nada fez para se opor.
Neemias age com decisão. Ele não se reúne com os patriarcas e consultado conselheiros teria ele fracassado. Em vez disso, considerando o ensino da Palavra do Senhor e permanecendo dentro do âmbito de sua autoridade, ele age resolutamente, com determinação.
Homens capazes e fieis como Neemias são muito necessários hoje. Tanto na igreja como fora dela. Temos há muito tolerado o mal. Por um lado, existem falsas doutrinas e pseudopiedade que permitem os inimigos da verdade diminuir os pontos básicos da fé.
Enfrentando os problemas
Tendo resolvido a primeira causa do declínio espiritual de Judá, Neemias agora procura retificar os erros que surgiram. Ele descobre que as porções para os levitas não têm sido pagas. Durante sua ausência da cidade, Malaquias exortou o povo a trazer os dízimos para a casa de Deus (Ml 3.7-12). Mas o povo perdeu a confiança nos sacerdotes e estava preocupado com suas próprias coisas. O resultado é que a casa do Senhor estava abandonada.
Quando Neemias verifica por que o culto do templo não está sendo realidade, ele contende com os oficiais da cidade. Afinal de contas, eles participam da responsabilidade de dirigir a capital e têm voz nos afazeres da cidade.
O confronto de Neemias com eles deve ter despertado seu senso de responsabilidade. Eles passam a encorajar os judeus a trazer os dízimos, e o versículo seguinte mostra que o povo responde voluntariamente.
Sob a forte liderança de Neemias, os sacerdotes e levitas voltam a exercer suas funções anteriores, a estrela de Eliasibe cai e jamais subirá outra vez. Ele é substituído por homens dignos de confiança, selecionados de vários grupos (Ne 13.13).
Participação no mal
A tolerância ao mal em Jerusalém tem também efeito nocivo sobre as pessoas gerando lassidão espiritual. O templo foi negligenciado, o sábado profanado.
Neemias vê alguns judeus da província pisando os lagares de vinho no sábado. Outros traziam sacos de trigo a Jerusalém de sorte a estar prontos para o mercado no dia seguinte. E homens de Tiro estavam fazendo feiras livres nesse dia santo.
A guarda do sábado sempre tem sido pedra de tropeço no comércio entre judeus piedosos e seus vizinhos gentios. Ao lidar com a situação, mais uma vez Neemias demonstra coragem. Ele chega aos nobres da cidade, que têm maior interesse na economia que qualquer outro e “contende” com eles.
Neemias intervém. Ele ordena que fechem os portões da cidade antes do sábado e instrui seus servos para que não se tragam mercadorias para a cidade. Uma ou duas vezes, os mercadores passam a noite fora da cidade. Alguns escritores acreditam que o barulho que fizeram trouxe o aviso de Neemias no vs. 21.
Neemias ameaçou os mercadores com prisão se tais coisas se repetissem. Ele não repetem. Eles estão apavorados diante de um homem com fortes convicções.
Finalmente, para garantir a santidade do sábado, Neemias instrui aos levitas a dedicar-se à tarefa de guarda-lo. É um dever sagrado.
SHABBAT
Certo indivíduo insistindo uma vez com o seu empregado, que era um cristão verdadeiro, para que trabalhasse aos domingos, disse-lhe: “Não te diz porventura a tua Bíblia que se o teu jumento cair num poço num sábado podes tirá-lo?” “Sim, senhor”, respondeu o empregado, “mas se o meu jumento tivesse o costume de cair no mesmo poço todos os sábados ou eu taparia o poço ou venderia o jumento”.
Um soldado, pego rastejando de volta ao quartel, foi levado ao comandante e considerado culpado de se comunicar com o inimigo. Como única defesa, ele afirmou que foi orar sozinho e não se comunicar com o inimigo como achavam. “Ajoelhe-se e ore agora!” Bradou o oficial. Esperando morte imediata, o soldado derramou sua alma em oração. “Pode ir”, disse o comandante, “acredito em sua história. Se você não orasse tão freqüentemente não teria feito tão bem esta oração”.
Aeroporto – São Paulo – disse que era músico gospel entrando no Brasil. Pediu pra cantar.
Outro levando um baixo, pediu pra tocar, não tocava. Eram drogas.
Jay Adams examina a necessidade de estabelecer novos hábitos: “Os conselheiros devem reconhecer que muitos cristãos desistem. Eles querem a mudança muito rápida. O que eles realmente querem é a mudança sem a luta diária. Às vezes, eles desistem quando estão bem no limiar do sucesso. Eles param antes de receber. Normalmente leva pelo menos três semanas de esforço diário adequado para a pessoa sentir-se à vontade para desempenhar uma nova prática. E leva aproximadamente mais três semanas para tornar a prática parte de si mesmo. Todavia, muitos cristãos não perseveram mesmo por três dias. Se eles não conseguem um sucesso imediato, eles se desencorajam. Eles querem o que desejam agora, e se não conseguem, eles desistem”
Rev. H. A. Ironside foi um famoso pastor e professor na Escola Bíblica Moody, em Chicago. Ele costumava contar a seus alunos sobre uma empregada doméstica que, ao ser perguntada como sabia que havia se tornado uma cristã, respondeu: ” Eu sei que sou uma cristã porque agora eu varro debaixo dos tapetes!” Quando não temos um compromisso com Deus e o Senhor Jesus não vive em nosso coração, muitas vezes tratamos a verdade com indiferença e escondemos os pecados embaixo de nossos tapetes espirituais. Ao recebermos o Salvador, fazemos questão de remover toda a poeira que antes estava escondida e, com o perdão do Senhor, viver em pureza e santidade, como convém a todos os cristãos.
Casamento Misto
O ato final de reforma de Neemias está na área de casamento misto.
Em suas andanças, Neemias descobre que os judeus têm se casado com mulheres asdoditas, amonitas e moabitas (Ex 34.15,16, Dt 7.14). Aparentemente é a velha história das coisas proibidas serem mais atraentes do que as regulamentadas para o seu bem.
As consequências de tais casamentos são demonstradas pelo que Neemias encontrou. Havia corrupção no lar. As mães criavam os filhos conforme seus próprios costumes pagãos, e a ignorância espiritual prevalecia.
Nosso grande inimigo, Satanás, tem uma ferramenta perigosa usada durante séculos. Ele nunca muda, e sua articulação ainda funciona como um passe de mágica em nossos dias. Ele a usa para causar estragos entre o povo de Deus e para tentar impedir o trabalho do Senhor. Que ferramenta é essa? O casamento misto!
Geralmente quando você questiona um crente que está prestes a se casar com incrédulo, as respostas são sempre as mesmas, observe:
“Eu o amo, e o amor é o que realmente importa”.
“Ele prometeu ir a Igreja comigo e as crianças”.
“Se eu romper com o relacionamento, ele não terá ninguém para conduzi-lo a Cristo. Além disso, tenho certeza de que ele vai se tornar um cristão”.
“Eu orei sobre isso e senti paz em meu coração de que esta é a vontade de Deus”.
No entanto, você precisa saber: essa nunca é a vontade de Deus! Deus deixou bem claro que é pecado para os Seus filhos se casar com pessoas ímpias. Sendo assim, Deus nunca vai desejar que você peque!
Essa é a mensagem de Malaquias 2.10-12. Os sacerdotes não viviam da maneira que Deus havia estabelecido em Sua Palavra e ainda faziam com que muitos tropeçassem (2.8 e 9). Na verdade, eles estavam se divorciando de suas esposas judaicas e se casando com mulheres estrangeiras (Ml 2.13-16). Através do profeta Malaquias, o Senhor adverte ao Seu povo contra o pecado do casamento misto.
O contraste entre o tipo de lar que Deus quer que tenhamos e o tipo que existe frequentemente quando se encontra impiedade encontra-se no relato Arthir Pierson sobre a descendência de Jonathan Edwards e de Max Jukes, um grande ateu da mesma época.
Jonathan Edwards nesceu num lar devoto. Seu pai foi pregador, e antes dele, o pai de sua mãe. Seus descendentes dedicados à palavra de Deus. Mais de 400 deles estão enumerados incluindo presidentes de universidades, professores, ministros do evangelho, missionários, teólogos, advogados, juízes e autores de renome.
Uma pesquisa com a família de Max Jukes, mostra uma longa linha de prostituição, embriaguez e insanidade. Traçaram um total de 1200 descendentes dessa família. Um grande número se destruiu fisicamente. Alguns eram mendigos profissionais, outros criminosos ou assassinos. Dos 1200, apenas 20 aprenderam uma profissão, e destes, metade aprendeu-a na prisão.
Ao corrigir essa situação, Neemias contende com os que casaram com mulheres das nações vizinhas. Ele espanca alguns deles e lhes arranca os cabelos. É muito sério isso.
O CRISTÃO DEVE PROCURAR SEU CÔNJUGE ENTRE CRISTÃOS. NÃO É UMA QUESTÃO DE PROCURAR ALGUÉM PARA AMAR. MAS DE CONSTITUIR UMA CASA DE ADORADORES. E OS PAIS NÃO PODEM ABENÇOAR UM RELACIONAMENTO MISTO DOS SEUS FILHOS.
É possível um casamento misto tornar-se um lar de adoradores? Sim, é possível. Mas não é o normal. Não é a regra. É uma exceção. É desobediência e um risco muito grande.
O casamento entre um cristão e um não cristão não apenas abre caminho para a corrupção dentro do lar, como também corrói a própria base do casamento. O casamento é um pacto entre duas pessoas e Deus.
O neto de Eliasibe havia se casado com a filha de Sambalá. Regulamentos especiais regiam o casamento dos sacerdotes, especialmente daquele que um dia poderia ser sumo-sacerdote. Neemias cuida do transgressor da lei repreendendo-o e afugentando-o.
A tradição diz que esse homem se chamava Manassés, e quando afugentado da presença de Neemias, vai para Samaria e inicia um sistema rival de adoração no Monte Gerizim.
A Confissão de Fé de Westminster declara: “A todos os que são capazes de dar um consentimento ajuizado, é lícito casar; mas é dever dos cristãos casar somente no Senhor; portanto, os que professam a verdadeira religião reformada não devem casar-se com infiéis, papistas ou outros idólatras; nem devem os piedosos prender-se desigualmente pelo jugo do casamento aos que são notoriamente ímpios em suas vidas ou que mantém heresias perniciosas” (Hb 13.4; ITm 4.3; Gn 24.57-58; 1Co 7.39; 2Co 6.14 – Capítulo XXIV – Do Matrimônio e do Divórcio, III).
CONCLUSÃO
O casamento de Olivia L. Langdon com o escritor americano Mark Twain é um caso trágico sobre as consequências de um casamento misto. Olivia Langdon havia sido criada em um lar cristão por pais piedosos. Mas quando Twain, um crítico aberto da religião, a convidou em casamento, ela finalmente aceitou sua proposta, sem dúvida secretamente acalentando a esperança de que ele poderia ser convertido a Cristo pelo seu exemplo. No começo isso parecia estar acontecendo. Albert Biglow Paine em sua biografia abrangente de Twain registra que “sua bondade natural do coração, e, especialmente, o seu amor por sua esposa, o inclinavam aos ensinamentos e costumes de sua fé cristã…” Demorou muito pouco por parte de sua esposa em persuadi-lo e realizar orações familiares em sua casa, a graça antes das refeições, e a leitura devocional de um capítulo da Bíblia. “Um dos amigos de Clemens, que sabia que ele era um grande cético, registrou sua surpresa ao visitar a casa e descobrir Twain orando e participando do culto familiar”.
Infelizmente, Twain começou a expressar o desagrado para com o culto e disse a sua esposa, “Livy, você pode continuar com isso se você quiser, mas devo lhe pedir para me desculpar. Isto está me tornando um hipócrita. Eu não creio na Bíblia, ela contradiz a minha razão. Eu não posso sentar aqui e ouvi-la e deixar de acreditar em tudo o que considero, como você faz, à luz do Evangelho, a Palavra de Deus”.
Isso por si só teria sido uma grande tragédia, que deve ter marcado o fim das esperanças de Olivia para o marido. Mas algo ainda pior aconteceu. A descrença de Mark Twain teve uma influência desastrosa na vida de sua esposa, e Olivia gradualmente caminhou da dúvida para a morte de sua religião. Um dia, quando ela e sua irmã estavam andando pelos campos ela confessou com tristeza que tinha se afastado de suas visões ortodoxas. Ela tinha deixado de acreditar em um Deus pessoal que exercia a supervisão pessoal sobre cada alma humana, disse ela. Anos mais tarde, em um momento de luto, Twain tentou fortalecer sua esposa com as palavras, “Livy, se te conforta a inclinar-se sobre a fé cristã, faça isso”.
Ela respondeu: “Eu não posso, jovem [sua designação favorita para o marido]. Eu não tenho nenhuma”.[1]
[1] Walter A. Maier, For Better, Not for Worse (Saint Louis: Concordia, 1935), 371.
Deixe um comentário